Eu sou sentimento de pertencimento
Um estado de espírito
Tenho história e memória
Sou alma, símbolo e conhecimento
Prescrito e irrestrito
Sou filho de índias, vaqueiros e negras
Nasci nas mãos de parteiras
Brinquei nos rios e nas praias
Fiz andanças corriqueiras
Nos sertões, serras e atalaias
Sobrevivo da lida de pescadores e marisqueiras
Das Catadoras e das cozinheiras
Dos queijeiros e das doceiras
Dos roçados das roceiras
Dos milhos, tapiocas e macaxeiras
Sou pai, mãe e filho de santo
Fiel, devoto e penitente
Lavo a alma com as águas de Iemanjá
Com a Verônica deságua o meu pranto
De Padre Pedro sou confidente
Sou hospitaleiro de sorriso farto
Solto pipa e dou voltas como pião
Faço Cuscuzinho com areia
Salto amarelinha de Aracaju à Lagarto
Piloto rolimãs do litoral ao sertão
Rodo o território feito Parafusos
Sambo nos Cocos, Aboio e Pareia
Danço nos Reisados, Cacumbis e Taieiras
Resisto como os Lambe-Sujos
Moro na Mussuca, Mocambo e Porto D’Areia
Navego no barcos de fogo e tototós
No carro de bois sou carreiro
Nado como um náufrago e Zé Peixe
Ando de marinete nos forrobodós
Caminho com os versos do Sapateiro
Bebo nas Fontes de Aglaé, Ilma, Hermes e Silvério
Com Fausto a alma dos sergipanos e de Sergipe
O Leite de Tobias Rabelo e Prado Sampaio
Sou Sobrinho de Sebrão das Laudas do Império
Afilhado Manuel Bomfim, Tobias Barreto e Araripe
Dentre tantas idas e vindas
com Beatriz fui a Riachão
Encontramos Ibarê e Francisco
Com os Santos, carreguei a Cruz de Alda e suas berlindas
Com Paim sonhei com a Revolução
Tenho a harmonia das orquestras
Sinfônica, filarmônica e sanfônica
De Atabaques dos terreiros
Dos ogans, maestros e maestras
Sou Multicultural e polifônica
Pinto a vida com as tintas dos encantos
De Horácio Hora e Jordão de Oliveira
J Inácio, José Fernandes e Leonardo Alencar
Jenner Augusto, Florival e Álvaro Santos
Hortência Barreto, a boneca e a brincadeira
Sou Americano no choro de Luiz
Sou vaqueiro sertanejo na sombra da jaqueira de Josa
Sou Edgar do Acordeon, forró raiz
Sou sergipano como José Augusto
Sou sergipana do coco da capsulana de Amorosa
A liberdade do falar com a Boca de Cena
Escuto Naurêa o Sambaião
Sou Cheiroso como o Mamulengo
Ando com os Artistas na Luta na quarentena
Aprendo com Raízes, Imbuaça, Reação e Irmão.
Finco no barro as pegadas de Pezão
Vivo no mundo de Véio e seu imaginário
Costuro linhas da vida de rendas
com espinhos do sertão
Aguardo o Juízo Final de Bispo do Rosário
Sou lutador, sonhador e persistente
A minha história precisa ser conhecida
A memória reconhecida e preservada
Não me apequeno, pois sou resiliente
A minha trajetória me deixa envaidecida
Denio Azevedo (UFS)
@sergipanidades79
Fotos por : Arthur Leite e Adilson Anmdrade